The Day the Clown Cried é o filme nunca lançado de Jerry Lewis sobre o
Holocausto, um projecto maldito desde o seu início, no princípio da década de
1960, até hoje. Muito poucos o viram na íntegra, mas esta semana reemergiram
algumas imagens da sua rodagem. Os cinéfilos dedicam-lhe tal atenção que, ao
saber dos clips na Internet, a revista New
Yorker classificou a
possibilidade de conhecer estas imagens como “um milagre cinematográfico”.
O
utilizador do YouTube que assina como Unklesporkums e que se descreve como
actor no vídeo de apresentação do seu canal colocou online a
10 de Agosto (2013) o que parecem ser imagens que documentam a feitura do filme com o
comediante americano, hoje octogenário e ainda defensor de que o filme de 1972
nunca veja a luz do dia. Já em Abril de 2012 o site Cobra.be mostrava as mesmas imagens, que não serão as primeiras a ser
conhecidas dos bastidores do filme (o canal Biography terá também algumas cenas).
Com
legendas em holandês, o vídeo de cerca de sete minutos mostra Lewis a testar um
número em que brinca com uma vela e o acender de um cigarro vestido com uma
camisa de riscas, suspensórios e nariz de palhaço, mas também permite
vislumbrar o cantor francês Serge Gainsbourg e a actriz e cantora Jane
Birkin no local de filmagem. A participação ou não de Gainsbourg em The Day the
Clown Cried permanece um mistério, pois o seu nome aparecia
associado ao projecto apesar de nunca ter constado do seu currículo oficial.
A
história por trás de The Day the Clown Cried é o testemunho de uma era: Joan
O’Brien, que trabalhava em relações públicas, concebeu no início dos anos 1960
– altura em que nem o termo Holocausto era muito usado no contexto da Segunda
Guerra, nem os trabalhos sobre a Alemanha nazi eram comuns – a ideia de um
filme sobre um palhaço enviado para um campo de concentração, no qual tenta
entreter as crianças judias ali detidas. A personagem, que viria a chamar-se
Helmut Doork e a ser interpretada por Jerry Lewis, um dos mais conhecidos
actores de comédia da época (e do século XX), acaba por se sacrificar
juntamente com as crianças na câmara de gás.
Mas
se Joan O’Brien teve a ideia, associou-se depois a Charles Denton para escrever
um guião (roteiro) que, na fase de filmagens, seria alterado por Lewis. O actor e
realizador do filme entra em campo pela mão do produtor Nathan Wachsberger, que
não só não tinha dinheiro para financiar o filme, como não tinha adquirido os
direitos a O’Brien. Foi Jerry Lewis que o financiou, porém a relações públicas
nunca autorizou o lançamento do filme nas salas, descontente com as mexidas no
seu guião. A história é contada na biografia de Lewis, King of Comedy, e citada agora pela New Yorker para
analisar o “milagre cinematográfico” que é o emergir destas imagens na
Internet.
Não
foi só O’Brien a barrar a divulgação do filme. Também Lewis é um fervoroso
adepto da sua inutilidade: fala em “embaraço” quando se refere a ele. Em janeiro, disse em Los Angeles que sentia “vergonha da obra” –
ainda bem “que tinha o poder de o conter e nunca deixar ninguém vê-lo. Era mau,
mau, mau. Podia ter sido poderoso, mas escorreguei”, admitiu, citado pela
publicação Hollywood
Reporter. “Nunca será visto.” Harry Shearer, comediante e voz de
várias personagens de Os Simpsons, é um dos mais famosos entre os raros
espectadores do filme. Em 1979, terá visto uma primeira versão de The Day the Clown Cried – que, segundo Lewis anunciara
em 1973, chegou a estar previsto para uma projecção no Festival de Cannes – e
arrasou-o numa sempre citada entrevista em 1992 à revista Spy: “O filme é tão drasticamente errado, o seu pathos e
a sua comédia estão tão absurdamente deslocados.” Chega mesmo a compará-lo com
“um quadro em veludo negro de Auschwitz”, frisando que “não é engraçado e não é
bom”.
A
história do filme, desde o facto de o palhaço ter sido preso ao ser apanhado na rua, embriagado, a troçar de Adolf Hitler, até ao final com a
caminhada das crianças e do palhaço rumo à câmara de gás, é conhecida porque o
guião há muito foi tornado público. A revelação destas imagens fez com
que tenham surgido algumas novas invectivas ao lançamento do filme. Richard
Brody, na New Yorker,
desvaloriza as dúvidas de Lewis sobre a sua actuação e elogia mesmo a comédia
física do actor numa das cenas. No site Pop
Matters, escreveu-se uma carta aberta em que se pede o lançamento
do filme. No YouTube, muitos dos que viram o clip mais recente pedem o mesmo.
"The Day the Clown Cried" – Making Of Footage
"The day the clown cried", mesmo não tendo entrado em exibição, pode-se dizer que é um clássico. Um clássico polêmico. Realizado no auge da carreira de Lewis como ator e diretor, há muita divergência de opinião entre os que o assistiram, mas um fato é indiscutível: foi o primeiro filme a abordar com humor a questão do holocausto – cerca de 25 anos antes do consagrado e tolo "La vita è bella".
ResponderExcluirUm abraço
Muito interessante! Gostei!
ResponderExcluirObrigada pela partilha!
***
Feliz fim de semana.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir¡Me encanta tu blog
ResponderExcluirdeleita visitarte Ha sido una ... Con tu Permiso me quedo! India ¡Bienvenido!, gracias por tu amistad! Paul.
Un abrazo.
maría.